Uma fábula contemporânea: um presidente se vê às voltas com uma crise política que coloca sua gestão e reputação em risco. Tudo se inicia de forma corriqueira: Oscar, diretor, vivencia um conflito envolvendo seu par e colega Henrique, que mostra-se bastante contrariado com uma decisão tomada e pede que ele a reveja. Contudo, Oscar entende que a decisão está correta e que alterá-la seria uma forma de preservar interesses pessoais de Henrique, neste caso, contrários aos interesses da empresa.

Henrique, indignado com a intransigência de Oscar para resolver seu problema, pede ajuda a outros colegas para influenciar o processo. Por sua vez, Oscar, identificando claros elementos de pressão, decide levar o caso ao Presidente.

O Presidente, dividido entre o que deveria fazer para resolver o conflito e o desejo de preservar a relação de longa data com Henrique, opta pela segunda alternativa.

Na medida em que o caso se espalha pela organização o Presidente se justifica dizendo que havia apenas “mediado” a divergência entre os dois subordinados, que culminou com o pedido de demissão de Oscar e, depois, de Henrique.

MEDIAÇÃO DE CONFLITOS

Mediar conflitos é uma excelente opção de intervenção para divergências entre subordinados. Muitas vezes, por si mesmas, as pessoas não conseguem resolver suas diferenças e precisam de ajuda para construir uma saída do impasse, uma solução.

Tem perspectivas ou interesses diferentes sobre a questão, que podem colocá-las defendendo rigidamente seu ponto de vista. Por vezes, podem ter valores distintos regendo sua decisão e alimentando um conflito que parece inegociável, demandando que uma das partes abra mão, como se uma estivesse certa e a outra, errada, numa postura ganha-perde, num pensamento binário, pouco criativo e centrado nos desejos de cada envolvido.

O mediador de conflitos, neste sentido, é o terceiro que vem para se oferecer como uma ponte que ajude as pessoas em conflito a retomar o diálogo, abrirem-se para ouvir e compreender outras perspectivas, ampliarem seu entendimento sobre o que está em jogo, não apenas a respeito do outro, mas ampliar sua própria percepção sobre sua visão do caso, e como se sente afetada.

O LÍDER MEDIADOR

O líder que se propõe a mediar o conflito sai de sua própria zona de conforto para, sem tomar partido, desafiar seus subordinados a construir uma boa solução para a empresa, para a equipe e para si mesmos, de forma a se fortalecerem e sentirem-se preparados para novas divergências.

O líder mediador empodera sua equipe na medida em que, sem decidir por ela, ajuda-a a ampliar sua consciência sobre seus atos e escolhas, sobre seus desejos e necessidades e a explorar novas alternativas criativamente, sem se prender às posições inicialmente adotadas.

Um líder mediador não se esconde da crise, não se omite, nem a delega para os subordinados bloqueados no conflito. Ele se envolve ativamente no descortinar das competências dos envolvidos para a construção de uma solução pois sabe que as pessoas, bem acompanhadas, conseguirão usar seus recursos pessoais para evoluírem no caso.

A ATUAÇÃO DO PRESIDENTE

Desta forma, retomando a história do Presidente com seus subordinados em guerra, a mediação de conflitos poderia ter sido bem sucedida, desde que adequadamente implementada.

Para se compreender o que deu errado, o primeiro fator a ser considerado neste caso é que o presidente não mediou, de fato, uma vez que fez uma tentativa de acomodação de uma situação, ao invés de ter investido energia para que ambos compreendessem o que estava em jogo. Portanto, faltou mediar o conflito, mediar o diálogo.

Já um segundo elemento, básico para uma mediação de conflitos, é que o líder mediador não pode tomar partido, julgar, escolher quem está certo, ou seja, privilegiar uma das partes, ou dar esta impressão.

O Presidente também pareceu não se dar conta de que paradigmas de gestão distintos estavam operando e, portanto, a questão a ser explorada não envolvia apenas compreender as variáveis presentes na decisão e suas consequências, mas aprofundar-se no modelo que regia o pensamento de cada um de seus subordinados para a execução de seu trabalho e para que pudessem trabalhar como um time coeso.

E, finalmente, um aspecto essencial à liderança deixou de ser observado, independentemente da intenção ou necessidade de conduzir uma mediação de conflitos: preceitos éticos. Um verdadeiro líder mediador cuida primorosamente da ética. Sempre. E isto não ocorreu nesta mediação de conflitos.